sexta-feira, 17 de maio de 2013

O excesso que faz bem

"Meus verdadeiros amigos eu conto no dedo", diz um...  "E de uma mão só!", completa outro. Escuto isso desde que me entendo por gente. Desde que entendo o real significado da palavra "amigo". E sempre reparei no orgulho das pessoas em repetir essa frase. Nunca contestei, nunca indaguei, e também nunca me identifiquei com tal afirmação que parece ser quase unânime pelas redes sociais, rodas de conversa e mesas de bar.
Tá certo, não é pra qualquer um que você pode contar seus segredos e angústias, não é qualquer pessoa que vai te atender no meio da madrugada apenas pra ouvir você chorar, sem falar uma palavra. Amizade é coisa séria, é ter em quem descontar seu péssimo humor após um dia de cão e saber que ele vai te entender. É ligar contando uma boa notícia e não ter medo de energias negativas, inveja ou qualquer outra coisa que não seja simplesmente estar feliz e torcendo por você. Mas é triste que sejam três ou quatro... A vida é muito grande pra ser compartilhada com pouca gente.
Sempre tive a sorte de ter muitos amigos. Amigos mesmo, com todo o peso que essa palavra carrega. E nunca achei isso ruim, por mais que já tenha sido indagada por isso. "Amigo demais não faz bem", "são poucas as pessoas em que se pode confiar". Acho, então, que fui privilegiada por alguém que me quer muito bem lá em cima. Ao longo da vida, vou fazendo, juntando, misturando e guardando amigos queridos, que me fazem rir, me ouvem chorar, me irritam (amigo que é amigo te irrita até dizer chega) e enlouquecem comigo.
Amizades são feitas de fases. Há aquela fase em que você precisa ficar quieta, num canto, vendo filmes deprimentes e comendo besteira... E sabe exatamente quem vai topar te acompanhar nessa. Talvez não seja a mesma pessoa que vai virar noites seguidas com você, quando a fase for a de não querer parar em casa. Há também aquele com quem você passaria um mês acampando no meio do nada sem tentativas de homicídio (ou suicídio), ou o que te aguenta falando mil e uma vezes a mesma coisa sobre a mesma pessoa. O que você procura pra ouvir o que quer (mesmo os dois sabendo que não é o que você precisa) e o que você procura pra ouvir o que precisa (mesmo não sendo o que quer escutar).
Aquele amigo que você não precisa ver e falar sempre, mas que quando te encontrar agirá como se morassem juntos. Aquele que está todo dia ao seu lado e não enjoa da sua cara (e nem você da dele). O que te proíbe de ligar pra aquele alguém, e o que te dá força pra fazê-lo. Todos juntos.
Amigos diferentes, mas todos amigos. Nem todo mundo da nossa família é nosso amigo. Mas todos os nossos amigos verdadeiros, são parte da nossa família. A família que nos foi permitida escolher. E quem tem uma grande, daquelas que num mesmo dia todos riem, gritam, choram e se abraçam, sabe que bom remédio é para o coração.